Sabemos que a conquista de uma velhice saudável, prazerosa e digna está em nossas mãos: depende, preeminentemente, de comportamentos e hábitos que adotamos ao longo da vida. E isso deve ser ensinado o quanto antes, de preferência na mais tenra idade. O desenvolvimento dessa consciência tem uma enorme relação com a Educação.
Hoje, quero falar de atenção plena, ou mindfulness, o que significa estar 100% presente naquilo que você está vivendo em um determinado momento. Este não é um exercício trivial, já que a nossa mente, assim como a mente das crianças, tende a transitar freneticamente entre as lembranças do passado e as projeções futuras, ficando muito raramente no aqui e agora.
Descansar a mente, ou apenas “focar”, é algo que fazemos com cada vez menos frequência no mundo complexo, conectado e multitarefas em que vivemos. De todo o tempo que passamos acordados, quase a metade – 47% – é gasta com dispersão, segundo um estudo da Universidade de Harvard publicado na revista Science. É como se vivêssemos metade de nossas vidas no mundo da Lua, o que prejudica o aprendizado, as relações, o trabalho e a vida de modo geral. Enfim, nos rouba a felicidade. As crianças, por incrível que pareça, também são vítimas dessa complexidade e da desatenção que dela deriva.
Mas o que é estar ou ser mindful, de maneira prática? Para a americana Ellen Langer, psicóloga de Harvard que há quatro décadas investiga as relações entre mindfulness, saúde, bem-estar e longevidade, a atenção plena pode ser definida como o simples ato de perceber coisas novas. “O processo de perceber coisas diferentes, inclusive em situações rotineiras, nos coloca no presente e nos torna sensíveis ao contexto daquele momento, em toda a sua perspectiva. Essa é a essência do envolvimento e da consciência total”, diz Langer.
Nos Estados Unidos e na Europa, o número de escolas que dedica algumas horas por semana ao ensino da técnica é cada vez maior. Só na Inglaterra, em cinco anos, 4 mil professores foram treinados e hoje possuem qualificação para ensinar atenção plena aos alunos do ensino básico, segundo o Mindfulness School Project. No Brasil, a adoção do mindfulness em classe ainda é restrita a casos pontuais, mas tem tudo para se alastrar.
Além de se fácil de se instituir, o ensino de mindfulness em escolas tem se mostrado uma ferramenta espetacular. Pesquisa publicada no jornal Developmental Psychology mostrou que a prática da atenção plena melhorou em 15% o desempenho dos alunos em matemática. Dentre estes estudantes, 24% se mostraram menos agressivos e outros 20% se tornaram mais sociáveis. Outro estudo, realizado pela Fundação David Lynch em escolas de Los Angeles, Chicago e Nova York, revelou que o mindfulness diminuiu em 40% o estresse e aumentou em 25% as notas dos alunos. O número de suspensões nessas instituições caiu 86%.
Enquanto o mindfulness não se espalha pelas escolas brasileiras, que tal tentar ensinar alguns fundamentos da técnica para as crianças em casa ou em sala de aula? A americana Sarah Rudell Beach, educadora e criadora do Brilliant Midfulness, programa de qualificação em atenção plena para professores, deu dicas sobre como fazer isso de maneira lúdica e divertida em seu blog Left Brain Buddha. Reproduzo algumas delas a seguir: