Balneário Camboriú
Como é que você está se sentindo hoje? E como você expressa suas emoções? Um psiquiatra explica que emoções e comportamentos nem sempre precisam de rótulos, principalmente na infância. Já pensou que em vez de definir uma pessoa é melhor elogiar o esforço, o resultado? E qual a melhor forma de expressar a raiva, a tristeza? Como as emoções afetam o coração?
De acordo com o psiquiatra, as emoções não têm que ser consideradas positivas ou negativas, agradáveis ou desagradáveis. Qualquer emoção pode nos ajudar a entender alguma necessidade ou algo que é muito importante pra gente. A emoção é uma forma de comunicação, ela diz a mim e ao outro de maneira não-verbal como estou. Por isso não devemos invalidá-la. Aliás, esse é o maior erro que pais e cuidadores podem fazer com uma criança, invalidar suas emoções. Isso gera emoções secundárias e só piora a situação. É o que acontece, por exemplo, com quem pratica automutilação.
Ajudar as crianças a expressar suas emoções sem julgá-las é importante para que elas cresçam com muito mais inteligência emocional. Uma criança que sente inveja pelo brinquedo do amiguinho e os pais julgam esse sentimento dizendo que aquilo é feio, ela pode se sentir reprimida, triste e gerar outras emoções secundárias. Ao invés de julgar, os pais devem explicar que entendem o sentimento de inveja, mas que no momento, aquela criança não pode ter aquele brinquedo, que o brinquedo X que ela tem em casa é muito legal também e que ela pode ser feliz com outras coisas.
O mesmo vale para os adultos. Tomar consciência das emoções nos ajuda a entender o que as pessoas querem dizer e nos direcionam para a melhor forma de lidar com aquilo. A gente costuma dizer que é errado sentir raiva, inveja, que não podemos ter medo, mas o que precisamos saber é controlar as ações que as emoções provocam.
Às vezes, a raiva é tão grande que dá vontade de bater, mas não podemos sair por aí batendo em todo mundo. Mas se por um lado é importante sentir e não invalidar as emoções para não gerar emoções secundárias, por outro, a chamada inteligência emocional está em aprender a regular a intensidade das emoções. E a gente só aprende à medida que não negligenciamos o sentimento.
Muita gente não sabe descrever suas próprias emoções, mesmo as básicas, como o medo, a ansiedade, o nojo, a raiva, o amor e a alegria. Às vezes o mensageiro manda a mensagem correta, às vezes, não. Quem não para pra conversar com o carteiro vai acabar recebendo uma avalanche de emoções. Precisamos prestar atenção nele, valorizar, assim ele vai acertar cada vez mais o endereço e mandar as mensagens corretas, na medida correta.
Cada pessoa tem uma fragilidade e o manejo inadequado das emoções complica a vida e pode fazer a gente adoecer. As emoções secundárias podem gerar um estresse crônico e isso faz com que os níveis de cortisol e adrenalina estejam sempre altos, o que prejudica outros órgãos. Cada pessoa tem um alvo, tem gente que tem pré-disposição para gastrite, então ataca o estômago, outras têm manifestações na pele, quem tem asma pioram as crises e pessoas com problemas cardíacos, podem ter a pressão aumentada e prejudicar as paredes das artérias.
Raiva – Evite delicadamente a pessoa com quem você está zangado, em vez de atacá-la. Tire um tempo de folga, inspire e expire profunda e lentamente. Seja gentil, em vez de mau ou ofensivo. Imagine compreensão e empatia pela pessoa a qual você sente repulsa ou desprezo. Mude a sua postura. Relaxe as mãos, com as palmas para cima e soltando os dedos; relaxe os músculos do peito e da barriga; a mandíbula e os músculos faciais. Meio sorriso. Mude a sua fisiologia corporal. Pratique a respiração compassada, inspirando profundamente e expirando com lentidão.
Medo – Faça o que você tem medo de fazer, repetidamente. Aproxime-se de eventos, lugares, tarefas, atividades e pessoas que você tem medo. Faça coisas que lhe deem um senso de controle e domínio sobre seu medo. Mantenha os olhos e os ouvidos abertos e focados no evento. Olhe ao redor lentamente; Explore. Absorva a informação e observe que você está seguro. Mude a postura e mantenha um tom de voz confiante. Olhos e cabeças erguidos, ombros para trás, mas relaxados; Adote uma postura corporal assertiva. Mude sua fisiologia corporal. Pratique a respiração compassada, inspirando profundamente e expirando com lentidão.
Crianças com vulnerabilidade emocional são aquelas que, mesmo em situações de desconforto aparentemente pequeno, apresentam emoções de grande intensidade e que demoram para “voltar ao normal”. Elas simplesmente nascem com esse temperamento, é algo determinado pela genética. Essas crianças representam um desafio para muitos pais. Embora as necessidades emocionais básicas sejam intuitivamente conhecidas pela maioria das pessoas, vale a pena identificá-las, pois as crianças com vulnerabilidade emocional apresentam as mesmas necessidades, porém exigem mais disponibilidade e paciência. Nesse caso, os pais precisam de ajuda para manter o foco no tipo de amor e atenção que precisarão dispensar a seus filhos.
Muitos adultos com transtorno de personalidade, isto é, com muitas dificuldades de relacionamento e de controle das próprias emoções, foram crianças com temperamento difícil (vulnerabilidade emocional), que não conseguiram ter suas necessidades emocionais adequadamente atendidas. Nessas situações, mesmo sem perceber, os pais podem acabar aumentando ainda mais essa vulnerabilidade emocional e contribuindo para o surgimento de problemas emocionais na vida adulta. Entre as cinco principais necessidades emocionais universais das crianças está o desenvolvimento da capacidade de expressar espontaneamente suas emoções, para conseguir controlá-las.
Os pais devem ser capazes de reconhecer e agir em sintonia com as necessidades e emoções da criança. Quando conseguem fazer isso bem, a criança se torna capaz de expressar sentimentos espontaneamente e os pais conseguem lidar com as emoções de seus filhos sem demonstrar raiva e descontentamento excessivo muito frequentes.
Para ajudar os filhos com essas necessidades, os pais precisam aceitar a forma eles reagem, tentando acolher as reações emocionais. É como se os pais dissessem para a criança que entendem porque ela está reagindo daquela forma e que, além de tentar resolver o problema, vão ajudá-la a controlar o desconforto das emoções negativas que ela experimenta. Quando essa necessidade é bem atendida, as crianças têm maiores condições de controlar e regular suas emoções. Elas passam a confiar na sua própria capacidade de lidar com emoções “negativas”.
Problemas observados em adultos com vulnerabilidade emocional ou traumas e que não tiveram essas necessidades adequadamente atendidas: personalidade dependente (não faz nada sozinho), obsessivo (cheio de regras), narcisista (acha que é o centro do universo), histriônico (é o centro das atenções), Borderlline (caldeirão de emoções), esquizóide (se isola do mundo), anti-social (o mundo é dos espertos), paranóide (todos querem me prejudicar), etc.
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Artigo editado. Publicado originalmente aqui.
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