29/08/2016
Clodoaldo Silva tem os movimentos das pernas debilitados — condição decorrente da falta de oxigenação durante o parto de sua mãe, que acabou provocando paralisia cerebral no atleta. A natação veio como tratamento, virou hobby e depois profissão. Hoje, com a carreira consolidada, Clodoaldo é daquele tipo de atleta extraordinário que seus recordes (são quatro mundiais e cinco marcas paralímpicas) precisaram ser quebrados por ele mesmo.
Para esse atleta, as dificuldades precisaram ser encaradas como desafios. Quando criança só se locomovia rastejando — ele fez quatro cirurgias antes da fisioterapia e da natação, em 1996. Em situação de vulnerabilidade social, Clodoaldo ia para os treinos pegando carona no ônibus, às vezes sem mesmo ter se alimentado de maneira adequada. A persistência vivia de sua vontade de não ser tratado como um deficiente: ele queria mostrar do que era capaz.
Clodoaldo treinava pela manhã e durante a parte da tarde. Na mesma piscina, treinava a equipe paralímpica do Rio Grande do Norte, seu estado de origem. Ele acompanhava os treinos do grupo e um dia decidiu que o esporte seria não só pela qualidade de vida, mas um modo de ganhar a vida: “Eu tracei um objetivo para mim mesmo: fazer parte daquela equipe”.
Clodoaldo ganhou três medalhas de prata e uma de bronze nas paralimpíadas de Sidney, em 2000. Seis de ouro e uma de prata em Atenas, 2004, na Grécia. Ganhou também o apelido de tubarão. Em entrevista dada em 2012, Clodoaldo conta que ficou surpreso quando voltou ao Brasil depois dos jogos em Atenas. Lembrou de um garoto sem deficiência que disse que gostaria de ser como ele quando crescesse. “Ter essa idolatria de alguém que não tem deficiência é muito gratificante”, afirmou.
Preparando-se para os Jogos Rio 2016, Clodoaldo espera que as Paralimpíadas no Brasil colaborem para quebrar o estigma de que pessoas deficientes não tenham as mesmas capacidades de quem vive sem nenhuma deficiência. Direcionando essa fala também para as pessoas com necessidades especiais e suas famílias que, não raro, ainda que com boas intenções, acabam por isolar a pessoa com deficiência do convívio social. Com certeza, Clodoaldo quer ver mais histórias de superação como a dele.
Após as Paralimpíadas do Rio, em 2016, o nadador pretende se aposentar das piscinas para se tornar jornalista. O futuro jornalista quer espaço na mídia para que mais histórias de superação como a dele sejam contadas, abrindo assim, novas portas para quem quer praticar esportes e tem algum tipo de deficiência física. Simpático e comunicativo, o jornalismo não vai ser difícil pra ele — talvez nada seja!
Publicado originalmente aqui pela Qual Farmácia.